sexta-feira, janeiro 27, 2006

Coisas...

Avassaladoramente, tudo cai sobre mim. Todas as coisas. O meu passado, o meu presente, o meu futuro. O virar as costas dos meus pais, as sms do homem por quem me apaixonei há imenso tempo e que está longe, as consultas no hospital que podem decidir o futuro do meu processo...

Tantas coisas que nem eu sei quantas são. E o meu organismo reage. Sinto-me frágil como nunca me senti. Sinto-me triste como nunca me senti. Sinto-me contente como nunca me senti. Sinto-me... Sei lá, é uma mistura tão grande de sentimentos que sinto quase tudo. Acima de tudo carente e sozinha. Muito sozinha. Infinitamente sozinha.

Estou presa numa gaiola dourada, não daquelas dos ricos, mas numa gaiola feita por sentimentos e sensações e acontecimentos que escapam ao meu controle. Posso estar prestes a dar o passo final no meu processo clínico de transexualidade. E não sei como me sinto em relação a isso. Sei apenas que o desejei (quase) toda a minha vida, e agora que ele aí está, eu... tenho medo... E daí a confusão na minha cabeça...

Também devo estar prestes a dar um novo rumo à minha vida. Mas tudo o que tenho emocionalmente está aqui. Tudo o que amo está aqui. Tudo o que conheço está aqui. Mas sei que devo seguir esse novo rumo. Ele pode-me levar a ter tudo o que sempre ambicionei para mim. Mas custa-me tanto deixar quem amo aqui...

São tantas coisas, que nem num calhamaço de 500 páginas conseguiria descrever tudo o que sinto. Vou sentir muitas saudades, muita falta dos meus amigos, poucochinhos mas bons, vou sentir muita falta do sol, do mar, da nossa língua, da Lara que sou aqui. Pois lá terei que ser uma nova Lara. Uma Lara com menos "fado", mais alegre. Agora só me resta esperar, o mais calmamente possível, o que o futuro me traz. E esperar que amanheça na minha vida.

Lara

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Lágrima em forma de flor

A calma da noite tranquiliza-me. Penso no dia cheio que tive, entre consultas, compras, conversas, etc., e uma brisa suave de silêncio afaga o meu rosto. Lembro-me, por instantes longos, de quem tenho saudades. De quem tive saudades. De quem terei saudades.
Quando partir levarei um pequeno molho de gente dentro da minha mão fechada, junto ao coração. São aqueles que me tiveram como filha, a filha que nunca tive (a minha sobrinha), e @s amig@s querid@s. Sei que isto é um cliché, mas todo esse Amor será uma força e uma saudade.
Vejo-me agora na fase adolescente da vida. Quando cortamos com os pais e seguimos o nosso próprio trilho. Só que no meu caso nada disso é/será natural. É um corte abrupto, pois eles não me aceitam, compreendem ou respeitam como mulher transexual que sou. E, agora, que se aproxima cada vez mais o momento de já não poder "disfarçar" de forma alguma, eles viram-me as costas.
Aliás, como acontece com a maioria das mulheres transexuais que conheço. Resta-me o ombro amigo daqueles e daquelas que me amam como amiga, e não olhar para trás. Seguir em frente, sempre com o mesmo amor que sinto pelos meus progenitores, mas vivendo, finalmente, a minha vida.
Estou farta, cansada, de não viver. Preciso de espaço, de emprego, de casa, de praia, de mar, de sorrisos, de beijos na face, de lágrimas de alegria, de tanta, tanta coisa. Está na hora de cortar amarras. Tanto desta relação pais/filha, como deste país tão tristemente pequeno em mentalidades (já para não falar do resto, senão nunca mais saía daqui!).
Acho que finalmente ganhei a coragem suficiente para viver. E não tenham dúvidas que é isso que vou fazer. E vai começar na minha viagem, longa viagem. Para um universo que não conheço, para junto de pessoas que não conheço, para a civilização!
Mas, apesar de tudo, as lágrimas de saudade caem-me como pequenas flores que brotam dos meus olhos...
Lara

domingo, janeiro 22, 2006

Viagens e a Lua

Sinto-me num estado meio ensonado, adormecido, no meio de tanta coisa que se tem passado na minha vida. Tudo tem mudado a um ritmo alucinante. Eu, os outros, o mundo, tudo. E em breve sentirei na pele essas mudanças, quando deixar de vez (espero eu) este país.
Como um rasgo de sorte ou uma chuva divina, apesar da minha tristeza profunda em deixar para trás tod@s aquel@s que amo, surgiu-me a oportunidade de poder trabalhar e viver noutro país, como eu, Lara, e com todas as regalias que aqui me são negadas.
Apesar do meu coração estar aqui e lá também (vou ter com familiares), na realidade sempre vivi aqui e acabei por tomar como certo este país pequenino, definhante e medonho de seres arrogantes e cínicos.
Sendo assim, os medos que penso serem naturais em qualquer pessoa que muda de vida radicalmente, são-no já em mim também. Agora é tratar de todos os pormenores aqui, despedir-me de quem amo e partir para uma vida bem melhor do que este país alguma vez me poderia dar.
Por outro lado, nunca pensei que fosse possível gostar tanto de dois homens ao mesmo tempo, isto indo buscar o tema das despedidas. Mas é verdade. Cheguei à conclusão que amei um e apaixonei-me pelo outro. Não ao mesmo tempo, mas os sentimentos perduram em mim em simultâneo. Agora, que as despedidas foram feitas, resta-me levantar a cabeça, esquecer que ambos existem e partir para a minha nova vida.
Continuar a ser celibatária e lutar para conseguir aquilo que sempre quis: um emprego que goste e o meu espaçozinho. Coisas que sei que para onde vou não serão difíceis de conseguir. Quanto a amores e desamores, já aqui e nos blogs anteriores falei (escrevi) o suficiente, ou seja, resumidamente: não obrigada. C'est fini.
Mas que descansem aqueles e aquelas que aqui vêm ler aquilo que me vai na alma. Mesmo longe continuarei a escrever sempre que possa, pois uma das maravilhas da internet é podermos comunicar de qualquer parte do mundo, né?
Vou, mas estarei sempre presente. Afinal o espírito (mesmo cibernético) é tão válido, ou mais, que a presença física. Vou, para finalmente ser EU.
Lara

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Lágrimas

No silêncio da noite procuro as minhas lágrimas brilhantes pela lua cheia. Penso em como nunca me passou pela cabeça chegar aos 34 anos. Em como sempre pensei que morreria mais nova. Sempre foi um "feeling" de adolescente e jovem adulta.
Agora vejo-me, trintona, celibatária, sem emprego e sem dinheiro. Vejo-me uma mulher que sempre desejei ser, mas que teimo em renegar. Essa imagem é algo que me assombra e com a qual tenho dificuldade em lidar. É que representa muita coisa nova na minha vida, e as minhas defesas não-naturais fazem-me mandá-la para longe.
Como mando para longe os homens que se tentam aproximar de mim. Como celibatária que decidi ser, já não existe espaço na minha vida para homens, o que representa que já não existe espaço para sexo, namoros, relacionamentos duradouros, etc.
Estou só e assim ficarei. Antes só que mal acompanhada. Além disso, nada nos homens me cativa a voltar atrás na minha decisão. Muito antes pelo contrário. Quanto mais conheço menos gosto e isso só me vem provar que estava certa quanto decidi o que decidi.
E em breve estarei a postar de outro país. Vou deixar, muito provavelmente, este, para nunca mais voltar, a não ser em férias e para visitar a família e amig@s. Vou tentar ter, finalmente, uma vida. Trabalhar e ter o meu espaço, nem que seja pequenino. Vou procurar as oportunidades que não me dão aqui. Vou para sempre e, acima de tudo, para ser Eu. Estou a precisar.
Lara

terça-feira, janeiro 10, 2006

De noite, na cama

De noite, na cama, sonho com tanta coisa que perdi, com tanto que nunca tive. Tenho saudades de sentir o calor de um corpo a meu lado, de uma mão tocar suavemente o meu cabelo, o meu corpo excitado.
Tenho saudades de sentir-me parte de alguém, e esse alguém ser parte de mim. Tenho saudades. Saudades de pertencer a alguém, de ser de alguém por um momento. Saudades de ser amada. Não de sexo. Sim de amor.
Tenho saudades do que fui e poderei ser. Saudades de viver e sentir-me viva. De ter prazer nos pequenos momentos, e nos pequenos gestos. De respirar e sentir o sangue fluir-me nas veias. De sentir o meu coração bater por alguém.
Tenho saudades, mas não sou saudosista. Agora é seguir em frente, apesar das saudades. Uma nova vida aguarda-me lá fora. Até eu me sentir viva outra vez.
Lara

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Bem vind@s

Ano novo, vida nova. Depois de vários anos a escrever e dois blogs depois, eis que me quedo por este. Sim, porque não tem os condicionalismos dos outros, e faz-me sentir outra.

Sentir outra, porque já não existem os antigos, apenas a recordação deles. Foram bons os tempos em que estive no blogger brasileiro e escrevi livremente sobre mim e os meus sentimentos.

Foram bons os tempos em que recebi todo o apoio e carinho de quem me visitava, fosse diariamente, fosse de vez em quando. E é isso que espero que aconteça neste blog. Pois se ele é novo, não vou deixar, nunca, de escrever sobre sentimentos, afectos, alegrias e tristezas.

Sendo assim, sejam muito bem vind@s ao meu novo blog e obrigada por estes anos de "bloguice"!

Lara