terça-feira, fevereiro 07, 2006

Escuridão avassaladora...


É incrível como temos períodos na nossa vida em que a escuridão surge com uma força avassaladora... Momentos só nossos, em que cada pensamento surge à velocidade da luz... E nós somos incapazes de controlar esse movimento, esses sentimentos, esses medos ou temores.

Hoje acordei com uma pequena nuvem negra a pairar sobre a minha cabeça. Nada de especial, pensei. Mas, ao longo do dia, essa nuvem foi crescendo, com o cansaço de uma noite mal dormida e o mal-estar físico. Tentei dormir um pouco, mas os sonhos captavam com maior intensidade ainda essa escuridão.

Uma escuridão feita de uma vida rica em sentimentos, mas pobre em feedback. Feita de sonhos destruídos aparentemente sem razão, de dores de amor e paixão, de rejeição. Tudo isso impera em mim, por mais que eu não queira. Por mais que eu queira esquecer ou perdoar, há coisas que não se esquecem, e há coisas que não se perdoam.

E eu não me consigo esquecer de tudo o que tenho passado, principalmente nestes últimos três ou quatro anos. Pensava ter tudo para ser feliz: um emprego que gostava, uma casinha minha, um namorado que amava. De um momento para o outro, a mutabilidade da vida trocou-me as voltas. Perdi o namorado, a casa e o trabalho. E a escuridão veio, forte como um tsunami que me enlevou nas suas ondas.

Tentei reconstruir-me. Tentei arranjar emprego, casa, e, de início, namorado. Emprego não consegui até agora, e as hipóteses de ir para fora parecem-me cada vez mais longínquas. Sem emprego não vou conseguir voltar a ter a minha casinha, o meu espaço. E depois de muitas/algumas blind-dates, e de ter conhecido muitos/alguns homens (isto até parece algo imenso, como se me encontrasse com qualquer um, mas enfim...), acabei por ficar sozinha. Acho que me apaixonei por um, especial, que, no nosso primeiro encontro me levou às Azenhas do Mar, por saber a paixão que nutro pelo imenso oceano... Mas nem essa paixão de nada valeu.

Decidi tornar-me celibatária. Nada de homens, relações, sexo. E, mal ou bem, consegui-o até agora. Dois anos depois de ter tido um breve namoro com um homem. Resumindo, estou completamente só há dois anos. Não me sinto bem com isso, mas nada há a fazer. Não sou de chorar sobre o leite derramado, logo segui sempre a minha vida em frente. Há quem fique sozinha a vida toda, e se eu ficar, acontece.

Todas nós sabemos que, para uma mulher transexual, é muito mais difícil encontrar um relacionamento sério do que para as mulheres biológicas. Ele é a vergonha de namorar uma trans, ele é o medo da reacção da família e amigos, ele é o complexo do falo... Enfim, uma panóplia de coisas que nunca mais acaba. Só que ninguém se lembra que nós não pedimos para nascer assim, apenas aconteceu.

Sendo assim, nada mais me resta acrescentar a não ser que cheguei ao fim do caminho. Do meu caminho. Sou, fui, e serei sempre a Lara. Nasci assim e tenho muito orgulho em ser quem sou. Apenas há momentos na nossa vida, como referi no início, em que a escuridão avassaladora toma conta de nós. E aí apenas há uma saída. E eu já escolhi a minha. Beijos a tod@s, do fundo do coração.

Lara-A-Escura

3 Comments:

Blogger Unknown said...

E como sempre, essa escuridão teima em não te deixar ver que nunca existe só uma saída, mas sim, várias saídas. Algumas vezes não as conseguimos vislumbrar, tal é a escuridão, outras vislumbramos somente algumas, deixando que muitas nos passem de lado. Raramente conseguimos ver a maioria delas. E para isso só podemos contar com as pessoas que conhecemos, cada uma com a sua visão peculiar e pessoal de cada acontecimento que a vida nos impõe. Há que ter calma, há que ouvir opiniões de pessoas que nos são queridas, e não tomarmos decisões quando estamos mergulhadas em escuridão, pois essas decisões são falseadas preisamente por não se conseguir vislumbrar todas as possibilidades.
Toda a gente que de algum modo foi tocada pela tua sensibilidade, amizade e amor, está a torcer por ti, cada um à sua maneira, uns com mais força, outros com menos, mas ninguém fica indiferente a ti e ao teu destino. Quando as pessoas te conhecem bem, ficam tocadas lá bem no fundo. Assim, apesar de não o notares ou de não ser visível, tens muita gente a torcer por ti. Tal como eu. Há que saber esperar.
Jinhos kida...

09:50  
Anonymous Anónimo said...

Lara: eu pessoalmente acho q 1 mulher TS só tem hipóteses de encontrar alguém sério se as pessoas n souberem q é TS. É q se souberem... népias. Pior ainda qdo se é pre-op. Na minha opinião é melhor ficar celibatária q andar c ppl q só vê 1 TS cm 1 freak / objecto sexual.
E se calhar tu tens (sem ofensa) 1 depressão clínica. Pq n falas ao teu médico sobre isso? Ele pode-te ajudar. Nng tem obrigação de sofrer.
A vida pode ter graça... vê se afastas essa negritude toda dos teus pensamentos.
Fica bem.

18:29  
Blogger Unknown said...

Ora bem, vamos lá ver as coisas: "Uma mulher TS só tem hipóteses de encontrar alguém sério se as pessoas n souberem q é TS. É q se souberem... népias."
Sendo assim, o dito amor só existe enquanto atracção sexual? Então e o que as pessoas são no íntimo? A personalidade? A sensibilidade? Será que o que nos atrai é sómente a parte animal (leia-se sexual) da coisa? Não me parece. Se assim fosse, aquelas de nós (mulheres, Ts ou não) que foram menos agraciadas com a beleza nunca encontrariam ninguém. E já vi muitas não muito bonitas casadas. Mais, já vi homens bastante feios casados com mulheres relativamente bonitas. O que não aconteceria no outro caso. As pessoas amam quem amam, ser trans mete algumas dificuldades a nível de contactos inicial, sim, mas só vou até ai. De resto, acredito que quem somos no fundo ainda valerá alguma coisa nesse aspecto.

09:55  

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