sexta-feira, março 17, 2006

Não quero...


De que falar quando nada há a dizer? Quando a sensação que temos é que tudo foi dito e redito na nossa vida? O que fazer quando, depois de anos, nos apercebemos que nada podemos mudar em momentos?

Que dizer de um beijo roubado que de carinho feito, anos depois nada significou? Que dizer de uma vida dedicada a outros, nada significa apenas porque somos quem somos? Que dizer de uma imagem delicada de nós, se ter transformado num corpo delicado em si?

Que fazer quando já nada conta, já nada nos diz nada, a vida já não faz sentido? Que fazer quando temos a noção de que somos gozadas, porque para certas pessoas (homens) valemos menos que zero? Que fazer quando uma sociedade de moral judaico-cristã nos crucifica em cada acto que praticamos, em cada palavra que proferimos, em cada momento em que respiramos?

Acho que morremos por dentro. E essa é a pior morte. Auto-destruo-me há mais de dez anos. Anulei-me quase toda a minha vida. Tenho quase 35 anos, e parece que pouco ou nada aprendi sobre o mal, sobre a natureza pérfida da maioria das pessoas. Por isso continuo a auto-destruir-me até morrer. De uma doença, talvez. De inanição, por exemplo.

Já me diagnosticaram (quase) tudo, mas sem haver certezas de (quase) nada. A única certeza que há é que "sofro" de disforia de género, o que faz de mim uma mulher transexual. Já me disseram que estou com uma "depressão major", que estou com uma anorexia nervosa, etc., etc., etc. A única coisa que sei é que não quero viver. Essa é a única certeza que tenho, fora as "depressões", "negativismos", e por aí fora.

Se viver é isto, dor e sofrimento, não quero. Por favor. Não quero.

Lara-A-Escura

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Ninguém quer mas no entanto cá estamos. Se eu me tivesse autodestruído há anos atrás, ou tu, não estaria hoje ao pé de ti para tentar suavizar as tuas dores. Não poderíamos passar os momentos bons que passamos juntas, não interessa se são muitos ou poucos, SÃO momentos bons. Não poderíamos dar uma palavra amiga uma à outra sempre que é necessário. Não teríamos ido juntas ao cinema, não teríamos feito a imensidão de coisas que acabámos por fazer juntas. E por cada momento desses, por cada sorriso que fazemos por estarmos juntas, sim, vale a pena aturar este mundo imundo. Pensa nisso. Afinal, a amizade vê-se é nos maus momentos, não nos bons, e se desistíssemos de tudo nunca nos poderíamos autodenominar de melhores amigas, né? Nunca saberíamos quem estaria lá quando fosse preciso. Jinhos kida e força que eu estarei sempre contigo quando necessário.

10:09  

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